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João Carlços Possendoro
Logo após a derrota (5x0) para o Corinthians, o jogador Dagoberto do São Paulo, ainda dentro do campo, declarou: “esta derrota vem provar que as cinco vitórias consecutivas (anteriores a derrota) não eram nossa realidade.†O jogador quis dizer que a sequência de triunfos do seu time foi conseguida somente pelo esforço e nunca pela qualidade. O técnico Tite, já no vestiário depois do jogo, declarou que os cinco a zero aplicado no adversário também não é a realidade do seu time. Disse mais: “a boa fase é resultado de uma média dos jogos realizados e não de um único jogoâ€. Dois ou três dias depois, já no CET do clube, o jogador Rogério (goleiro) numa espécie de censura ao colega Dagoberto, minimizou e disse não ser bem assim, os cinco a zero foi atÃpico. A nossa realidade é boa, próxima daquela anterior ao jogo contra o Corinthians, cravou ele.
Então! Ao que parece o significado da palavra realidade (o que é verdadeiro) está na moda. Transportando-a para o municÃpio de São José, sobra, ou nos é permitido algumas indagações: A atual administração municipal é a nossa realidade? O nosso trânsito, no nosso ir e vir é nossa realidade? O nosso comércio é verdadeiro e assim sendo será duradouro? A realidade dos nossos jovens junto ao mercado de trabalho é essa mesma que aà está? E a indústria, ah, ah, nossa indústria, hum! É isso mesmo que aà está?
Pois é, este espaço já foi usado, algumas vezes para tecer loas ao comércio e criticar o trânsito de veÃculos em São José, que são consequentes. Obvio ululante, diria Nelson Rodrigues, se ainda fosse vivo. Uma coisa puxa a outra: comércio forte, trânsito forte. O problema é que a compatibilidade existente entre o comércio e o trânsito não é a mesma existente entre o trânsito e quem faz uso dele. Daà a reclamação. Estacionar veÃculos no setor comercial e de prestação de serviço da cidade virou um exercÃcio que exige muita criatividade e até eventuais transgressões (exemplo: estacionar em lugar reservado a idoso, sem sê-lo) da lei. Olhando por outro ângulo estamos reclamando de barriga cheia. Que tal um cidade vazia e sem trânsito de veÃculos. EstarÃamos retrocedendo no mÃnimo cinquenta anos.
O municÃpio tem tradição agrÃcola. É um dos poucos em todo o paÃs cuja divisão agrária foi natural sem a necessidade de reformas. Exemplo maior a região do SÃtio Novo. Este setor, o hortigranjeiro, de uns tempos para cá, tem sido mais ágil. A comercialização de seus produtos vem ganhando espaço.
Ocorre que em ambos os seguimentos, com rarÃssimas exceções, comércio e mais ainda na agricultura a mão de obra não é especializada, consequentemente o salário é baixo. Sem falar nas domésticas, o maior contingente de trabalhadores destas duas áreas vem do Cassucci e principalmente da região do Vale do Redentor, verdadeiros bairros dormitórios. No caso da agricultura além dos salários baixos, as condições para o exercÃcio do trabalho não são aquela maravilha. A começar pelos meios de transportes, ônibus, kombes e afins, que pela precariedade, de há muito, deveriam ter sido retirados, impedidos de circularem. O trabalhador rural merece e tem direito a coisa melhor.
Já que estamos falando em perspectiva de trabalho e de mão de obra, cabe uma pergunta: a quantas e onde anda a nossa mão de obra dita, especializada? Um bom exemplo: Na região de São Carlos-Araraquara, um padeiro qualificado, daqueles que sabe fazer um bom pão, está sendo disputado à tapa. O salário pode chegar a mil e seiscentos reais.
Outro dia, numa roda de amigos, final de tarde, antes da cerveja nossa das sextas feiras, com o trânsito (novamente ele) parado na Francisquinho, na Treze e na João Gabriel, sentido rodoviária, alguém alertou e reclamou das dificuldades para se estacionar e se locomover. Em seguida, outro alguém, emendou levantando uma questão. Parcela deste trânsito de final de semana: seria “culpa†dos rio-pardenses ausentes que retornam para ver a famÃlia? A discussão não teve consenso mais deixou algo no ar, pelo menos para este que vos escreve.
Não há estatÃsticas sobre quantos dos nossos jovens estudam fora. Tirando algumas raras exceções como médicos, dentistas e advogados, entre outros, que depois de formados retornam e fincão pé na cidade, prá onde vão os economistas, analistas de sistema engenheiros, geólogos e demais, depois de formados? Sabe-se que há muito rio-pardenses, de ótimo currÃculo, espalhados em diversas áreas, ganhando ótimos salários.
Este quadro é uma constatação que em São José existem realidades dÃspares e preocupantes. De um lado um meio rural em expansão e um comércio exuberante que transcende seus limites; do outro, o lado industrial que poderia resultar em maior quantidade de empregos e melhores salários, restringe-se a uma grande indústria alimentÃcia que faz bem ao municÃpio sim, mas que oferece poucas vagas qualificadas e prima pela rotatividade em boa parte dos empregos que oferece.
Entra ano e sai ano as futuras autoridades – quando da eleição - prometem novas indústrias. Porém, de prático, nada. Consequências: o municÃpio não cresce - o último censo mostrou isso – ele se expande. Enquanto isso, grande parte das boas cabeças jovens vão embora. Vão fazer sucesso em outro lugar. Um jovem trabalhando fora é também uma futura famÃlia morando fora. Para aqueles que permanecem há poucas oportunidades para crescerem profissionalmente. Resta a eles tentarem um concurso público (muito em moda) ou se resignar a viver com salários incompatÃveis com um mundo cada vez mais exigente no quesito dinheiro.
Exemplo tÃpico do atual estado de coisa e a praxe comum que está se espalhando entre os jovens (faixa salarial entre seiscentos e mil reais) que desejam se casar. Eles, para financiarem a casa onde irão morar, vão ao cartório e se casam sem nenhuma pompa - uma frustração para a noiva - como exigência e forma de honrarem seus compromissos futuros em rela cão ao imóvel que estão adquirindo.
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