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Euclides da Cunha

Sertão puro

Cyl Gallindo


É-me impossível listar os trabalhos que li sobre o Sertão. Não me refiro ao Sertão de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa ou Euclides da Cunha. Estes escritores nos deixaram a essência geopolítica de um espaço, onde se mistura terras, gentes, flora e fauna, com um quê de sublime, a transpor tudo isso de forma encantatória, resumido no termo arte. Arte da palavra. Para a qual o tempo não conta e os horizontes não existem. Qual gestor basearia um relatório na obra de Graciliano, se o que ele mostra é a dissociação entre o poder e o povo. Ou em Euclides, se o quadro por ele pintado é de um Estado esmagando o oprimido. Estado, como já tive oportunidade de dizer: Forte demais perante os fracos, e fraco demais perante os fortes. Ou mesmo Guimarães Rosa, que elege em sua obra o sumo cultural do Sertão.
Os relatórios apresentados eram outros. Feitos por políticos cínicos, recheados de truques, chantagens, e de arabescos enganadores, sobre um sertanejo, vítima da própria realidade, em que os falsários seriam seus salvadores, desde que o poder central concedesse-lhes as verbas solicitadas.
Quantas solenidades eu assisti, nas quais os governantes, comovidos pela leitura desses relatórios, sob aplausos do povo, prometiam somas altíssimas para minorar o sofrimento desses miseráveis. Repetindo uma atitude vinda desde o Império.
No dia seguinte, era liberado um pouco da verba, meses depois, mais um pouquinho. Nesse ínterim, chegavam as chuvas. O pobre voltava para o Sertão, plantava o seu roçado e aparecia a fartura. Todos se calavam, como se nada tivesse acontecido, a espera de outra seca.
O lado absurdo é que jamais alguém pensou em por em prática a lição de José do Egito: armazenar na fartura para suprir as necessidades nas épocas adversas.
Absurdo maior, porém, é que governo algum procurou ouvir as verdadeiras personagens dessa história. Como Jonas José Brasil, engendrado por Augusto José Brasil e Joana Maria Brasil, nasceu e viveu no Vale do Pajeú, povoado dos Macacos, hoje Iguaracy. Viveu no Sertão “de carne e ossoâ€, no dizer de Zé da Luz. Como os esquimós vivem no Polo Norte e os Tuaregues, no Deserto. Adaptados, rompendo secas e enchentes, fomes e abundâncias, com sabedorias próprias.
Sabedoria que Jonas José Brasil patenteia nas suas despretensiosas revelações da convivência do seu povo com a terra. Embora solicitado, não pretendia escrever as aventuras vividas nas paisagens sertanejas. Até surgir o apelo do filho: “O senhor deve escrever um livroâ€. Escreveu. Um livro sem drama e sem tragédia. Sem mocinhos e sem heróis. Enfim, sem a baboseira dos falsos relatórios. A expor um quadro sertanejo real, onde se encaixa o depoimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião:
“Fui um moleque feliz. No Sertão, todo moleque, que não vive no domínio de senhores perversos é feliz. Pobreza, a liberdade ampla, a natureza imensa a sugerir uma grandeza que está longe de atingirâ€.
Jonas José Brasil também assegura várias vezes conhecer essa felicidade.
Ao ouvir hoje “autoridades†contestando o desvio do Rio São Francisco, com seus mil argumentos, incluindo greve de fome de bispo, lembro atitudes semelhantes contrárias à implantação da usina hidroelétrica de Paulo Afonso.
O último argumento orquestrado diz que a transposição visa unicamente atender aos grandes produtores rurais. Que assim seja. Conquanto permita a milhões de criaturas disporem de um copo d’água perto de casa para saciar a sede, sem ter de ir buscá-la com um pote na cabeça, a cinco, seis quilômetros de distância. Desconheço rodovia pavimentada para jumentos; ou uma rua de mocambos calçada, muito menos um aeroporto construído num povoado. Tudo é feito para os grandes. O máximo a acontecer é os pobres também se beneficiarem desses empreendimentos. Então, que venha logo a transposição das águas do velho Chico gotejar nas terras dos pobres sertanejos.
Lembro ainda todos os argumentos contrários ao desenvolvimento do Nordeste. As verbas do País só podem e devem beneficiar o Centro-Sul.
O livro Tributo aos Nordestinos, de Jonas José Brasil, é uma resposta contundente a esse falso panorama de miséria vivida pelo povo brasileiro, especialmente o Nordestino. Nele encontra-se um Sertão Puro.
Jonas José Brasil e eu ainda não nos conhecemos. Seu trabalho chegou às minhas mãos através da escritora Andreé Perazzo, de quem prefaciei o livro Iguaracy: Cidade Deus do Sol. A quem muito agradeço a oportunidade de ler esta obra.
Espero vê-la publicada e servindo de relatório para os verdadeiros problemas do Sertão.

Boa Viagem /Recife, 17 de abril de 2012



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