A cueca como inspiração literária, segundo diferentes estilos
Um Haikai
" Cueca e dinheiro,
o outono da ideologia
do vil companheiro."
À moda Machado de Assis:
" Foi petista por 25 anos e 100 mil dólares na cueca"
À moda Dalton Trevisan:
" PT. Cem mil. Cueca. Acabou."
À moda concretista:
" PT
cueca
cu
PT
eca
peteca
te
peca
cloaca".
À moda Graciliano Ramos:
" Parecia padecer de um desconforto moral. Eram os dólares a lhe
pressionar os testÃculos".
À moda Rimbaud:
" Prendi os dólares na cueca, e vinte e cinco anos de rutilantes
empulhações cegaram-me os olhos, mas não o raio-x"
À moda Ãlvaro de Campos:
" Os dólares estão em mim
já não me sou mesmo sendo o que estava
destinado a ser. Nunca fui senão isto:
um estelionato moral na cueca das idéias vãs"
À moda Drummond:
" Tinha um raio-x no meio do caminho,
e agora José?"
À moda Proust:
" Acabrunhado com todas aquelas denúncias e a perspectiva de mais um dia tão sombrio como os últimos, juntei os dólares e levei-os à cueca. Mas no mesmo instante em que aquelas cédulas tocaram a minha pele, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa. Esse prazer logo me tornara indiferente às vicissitudes da vida, inofensivos seus desastres, ilusória sua brevidade, tal como o fazem a ideologia e o poder, enchendo-me de uma preciosa essência."
À moda TS Eliot:
" Que dólares são estes que se agarram a esta
ImundÃcie pelancosa?
Filhos da mãe! Não podem dizer!
Nem mesmo estimam
O mal porque conhecem não mais do
Que um tanto de idéias fraturadas,
Batidas pelo tempo.
E as verdades mortas já não mais os abrigam
Nem consolam."
À moda Lispector:
" Guardei os dólares na cueca e senti o prazer terrÃvel da traição. Não a
traição aos meus pares, que estávamos juntos, mas a séculos de uma crença que eu sempre soube estúpida, embora apaixonante. Sentia-me ao mesmo tempo santo e vagabundo, mártir de uma causa e seu mais sujo servidor, nota a nota".
À moda Lênin:
" Não escondemos dólares na cueca, antes afrontamos os fariseus da
social-democracia. Recorrer aos métodos que a hipocrisia burguesa
criminaliza não é, pois, crime, mas ato de resistência e fratura revolucionária. Não há bandidos quando é a ordem burguesa que está sendo derribada. Robespierre não cortava cabeças, mas irrigava futuros com o sangue da reação. Assim faremos nós:
o dólar na cueca é uma arma que temos contra os inimigos do povo. Não
usá-la é fazer o jogo dos que querem deter a revolução. Usá-la é dever
indeclinável de todo revolucionário."
À moda Stálin:
" Guarda a grana e passa fogo na cambada!"
À moda Gilberto Gil:
" Se a cueca fosse verde como as notas, terÃamos resgatado o sentido
de brasilidade impregnado nas cores diáfanas de nosso pendão, numa
sinergia caótica com o mundo das tecnologias e dos raios que,
diferentemente dos da baianidade, não são de sol nem das luzes dos orixás, mas de um aparelho apenas, aleatoriamente colocado ali, naquele momento, conformando uma quase coincidência entre a cultura do levar e trazer numerário, tão nacional, tão brasileira quanto um poema de Torquato"
À moda Ferreira Gullar
" Sujo, sujo, não como o poema,
mas como os homens em seus desvios"
À moda ! Paulinho da Viola
" Dinheiro na cueca é vendaval"
À moda Camões
" Heis, poys, a nau ancorada no porto
à espreita dos que virão d´além
na cobiça da distante terra,
trazendo seus pertences, embarcam
minh´alma se aflige
tão cedo desta vida descontente"
À moda Guimarães Rosa:
" Notudo. Ficado ficou. Era apenas a vereda
errada dentre as várias."
À moda Shakespeare
" Meu reino por uma ceroula!!!"
À moda Dráuzio Varela:
" Ao perceber na fila de embarque o cidadão à frente, notei certa
obesidade mediana na região central. Se tivesse me sentado ao seu lado
durante o vôo, recomendaria um regime, vexame que me foi poupado pelos
agentes da PF de plantão no aeroporto. Cuidado, portanto, nem toda
morbidez é obesidade"
À moda Neruda:
" Cem mil dólares
e uma cueca desesperada",